26 de maio de 2007

Salgado à Lágrimas

...Prólogo:
..Esse texto é uma conversa organizada, mediada por mim, entre minhas facetas. Escrevi-o para mim mas tenho dó de restringi-lo. Deixo que o mundo (por puro exagero meu) o conheça.


Salgado à Lágrimas

......Hoje à tarde me aconteceu algo extremamente estranho. Um aperto, como algo engasgado na garganta, algo que não saia, como uma ânsia. Sinto-a voltando só de pensar nisso de novo e mais uma vez. Devo dizer que não sou do tipo de pessoa que esconde sentimentos ou ao menos não tenho vergonha de chorar, até choro de mais, ás vezes. Por algum motivo não consegui. Precisei de um ombro pra conseguir chorar algumas lágrimas, pouquíssimas se comparadas com o tamanho dessa ânsia, elas não me serviram de nada.
......Essa ânsia me volta agora e, só agora, me faz vomitar essas palavras salgadas à lágrimas. Fico me perguntando se inventei todo esse amor, se fagocitei esse amor, inventei-o e tornei-o mim.
......Sinto-me completamente infantil agora, com esse anseio desesperado por carinho, por amor, por amante. Meu alter-ego, ou uma de minhas facetas, vem à tona, toma conta de mim. Ela é uma menina ainda, inocente, que não desistiu do amor por não saber os efeitos colaterais, a longo prazo, dessa droga Ainda não passaram os efeitos, a viagem ainda não passou. Ou passou e ela não quer acreditar.
......Palavras dizem pouco, eu sei disso, mas essa lágrima que acaba de percorrer as curvas de meu rosto diz muito. Uma lágrima sozinha, que veio num piscar de olhos cheios d’água. Caiu pelo canto interno do meu olho direito. Desceu pelo meu nariz e parou na argola que tenho nele. Acaba de cair nessa folha de papel, salgando-a à lágrima.
......Teu olhar ontem a mim disse muito. Disse que tudo se tornou a maior mentira. Ocorre-me agora o verso daquela nossa música, “se lembra quando agente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre”. Quanta ingenuidade a nossa... Ou será que só eu acreditava? Será que você só mentia pra mim? Será que seus olhos, seus olhares, mentiram pra mim?
......Isso já não importa mais para algumas de minhas facetas, e importa mais do que elas mesmas para outras delas. Ao som de soluços abafados paro e vomitar, ao menos as palavras. Quanto às lágrimas, não sei por quanto tempo continuarão a percorrer meu rosto. Enquanto isso fico acordada nessa anamnese.

Ana.mne.se – s.f. na filosofia platônica, rememoração gradativa através da qual o filósofo redescobre dentro de si as verdades essenciais e latentes que remontam a um tempo anterior ao de sua existência empírica.

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